terça-feira, 21 de junho de 2011



Ocorria-me sempre, quando era criança, interrogar a mim mesmo, á noite, o que poderia acontecer após a morte. Respostas, evidentemente, eu não a tinha jamais, Então, uma espécie de angústia sufocava-me, calafrio percorriam-me o corpo, um medo indefinível, algo impreciso, como dizer? Um pouco a sensação de que a vida lhe escapa, desliza em trevas desconhecidas...

É uma pergunta que não me abandonou jamais, desde então. Por outro lado, como poderia ela abandonar-me? Inicialmente, a doença encarregou-se de torná-la presente durante toda a minha adolescência. A doença pulmonar que me arrastava em um corpo a corpo cotidiano com a morte. Era-me difícil não pensar nisso. Depois a guerra. Esta horrível guerra, imagem do inferno sobre a terra.

A morte, eu a ladeara então durante toda a minha juventude, e, para contrabalançar esta familiaridade que eu tinha com ela, buscava, por outro lado, um pouco de poesia. O caminho era lógico, natural. Era preciso que eu passasse por estas leituras para encontrar, no final, a filosofia da vida.

Ao homem e somente a ele recai o privilégio de poder refletir sobre este instante da vida. O que é certamente fácil de dizer mas nem sempre fácil de fazer. Os acontecimentos, as ocupações da vida cotidiana encarregam-se muito rapidamente da fazê-lo esquecer. Não se passa nem um só instante, e ele não sabe mais. E seu coração, sua sensibilidade, a luta pela sobrevivência, que atinge, em nossos dias, uma extrema violência, encarrega-se de secá-los!

Parece-me que se está começando a interrogar-se sobre o sentido da vida e a descobrir um poder de reflexão autônomo. Seria isso o início de uma restauração - a do valor do humano? Sem dúvida. Mas, o que permanece certo, é que para dar uma dimensão maior, mais vasta, á vida, para romper suas correntes, o único meio é achar seu significado e sua essência. 

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